Resenha
Qual
a importância do desenho infantil na detecção de traços de sua personalidade?
No primeiro bloco de seu livro, CAMPOS nos traz uma discussão sobre o
desenvolvimento de técnicas que enfatizam a produção individual ou coletiva de
desenhos por parte das crianças, tendo em mente que, o desenho infantil revela
não apenas um olhar particular da criança sobre determinado assunto, mas o modo como ela entende o mundo.
Basicamente
o teste do desenho possibilita a determinação do nível mental e serve como
instrumento de diagnóstico da personalidade. Os primeiros estudiosos do desenho
infantil, num primeiro momento utilizavam suas técnicas para determinar o nível
mental infantil. O teste do Boneco (teste de Googenough), a Folha Prudhommeau,
o teste gestáltico Visomotor, entre outros são exemplos de métodos com
finalidades específicas que utilizam o desenho. É importante destacar que esses
métodos tem como objetivo identificar o nível mental da criança, mas, vale
salientar a contribuição de alguns destes.
O
teste do Boneco tem como vantagem ser de fácil aplicação e pouca utilização de
material. A Folha Prudhommeau é mais indicada para diferenciar os tipos de deficientes
mentais. O Teste Gestáltico Visomotor de L. Bener tem como contribuição a
constatação de que os oligofrênicos não se preocupam com o fator temporal.
Através disso, pode-se estabelecer diagnósticos mais específicos, distinguindo
deficientes mentais de pessoas com transtorno de personalidade.
Com
o tempo, F Goodenough percebeu que seus testes não só avaliam o nível mental
das crianças, como também fatores de personalidade. A partir de testes do
desenho se desenvolveram outros testes com essa finalidade. O teste do desenho
da figura humana e o teste do desenho da casa-árvore-pessoa são técnicas
projetivas baseadas no desenho.
Por
que pode-se confiar nesses testes? Segundo CAMPOS:
As indicações sobre a dinâmica da personalidade
projetada no desenho foram descobertas graças ao emprego de várias fontes de
evidências, tais como: informações a respeito do paciente; associação livre;
interpretação dos símbolos pela análise funcional e comparação de um desenho
com outro desenho de uma série, ou por comparação com os dados de Rorschach ou
TAT. Todas estas informações foram reunidas pelo emprego do método da
consistência interna, que constitui o método preferido dos investigadores
orientados para a clínica. (CAMPOS, p. 17, 2013)
Assim,
a importância do desenho para os que trabalham com crianças é fundamental. A
criança desenha o que vê e esse mesmo desenho transmite o que ela sente. Não
importa o método, o profissional precisa saber qual método é mais indicado para
determinada situação. Kotkov e Goodman foram pioneiros no estudo da projeção da
imagem do próprio corpo no desenho. Berman e Leffel ampliaram esse campo de
estudo. Meyer, Brown e Levine delinearam os estudos sobre esse campo. A
contribuição desses métodos está na constatação de que o a caracterização do
autorretrato é projetada nos desenhos.
Katz,
Hammer e Waehner investigaram outros campos como projeção da agressividade, simbolismo sexual
e resumo descritivo da personalidade.O desenho como técnica projetiva deve ser
utilizado com crianças mais jovens – desenhar é mais fácil do que falar para
elas -, pode ser utilizado também com indivíduos com baixa escolaridade,
pessoas de baixa renda que tem dificuldade de se expressar verbalmente.
Segundo
CAMPOS:
Ultimamente, tem surgido interessantes observações
sobre os efeitos da existência de
diferenças nas profundezas da personalidade, analisada por técnicas projetivas
verbais, ou não verbais. O emprego do Desenho como Técnica Projetiva levou a se
descobrir que os conflitos mais profundos, frequentemente, se refletem mais
prontamente no papel. (IDEM, p. 23)
Portanto,
cabe ao profissional da educação estar ciente dos métodos, dos exemplos
concretos já estudados e tentar aplicar a sua realidade local. Por ser de fácil
aplicação e pouco uso de materiais é uma forte ferramenta para os professores
da rede pública que carecem de suportes institucionais. Sempre lembrando que a
partir dos desenhos se pode conhecer mais profundamente uma pessoa.
Referência:
CAMPOS,
D. M. O teste do desenho como
instrumento de diagnóstico da personalidade: validade, técnica de aplicação e
normas de interpretação. Rio de Janeiro, Vozes. 2013.
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