Conhecimentos Históricos e geográficos do Maranhão - O Projeto de colonização francês na ilha de Upaon Açu

A presença francesa no Maranhão estava inserida num contexto maior, onde potências europeias buscavam se auto-afirmar sobre povos de culturas diferentes.

Por que tanta gente da tanta importância a ocupação inicial francesa no Maranhão?

 É o que proponho expor aqui em poucas linhas. Para isso é necessário entender que a França tinha um projeto colonial para as terras ditas pertencentes aos portugueses. Também, como os historiadores maranhenses do século XVI ao XIX interpretaram a presença francesa na região.


O que foi a França Equinocial?

Por que um Estado que têm quase 400 anos dá tanta importância a 3 anos de ocupação francesa na Ilha de Upaon-Açu, conhecida como São Luís? Primeiro, vamos entender o que foi essa ocupação francesa.

A chegada dos franceses no litoral norte brasileiro estava inserida num contexto de expansão pelo Atlântico Sul. No final do século XVI, os franceses tentaram construir fortificações ao norte da Capitania de Pernambuco, travando batalhas com portugueses no Rio Grande do Norte e da Paraíba. “Em 1604, os franceses já iniciam atividades de exploração na região da atual Guiana Francesa, liderados pelo general Daniel de La Touche, o mesmo militar que liderou a ocupação do Maranhão em 1612”. (Cardoso, p. 324, 2011)

 Devido a situação de “abandono” da região Norte pelos portugueses em 1612 será construída uma ocupação francesa por lá. De 1612 a 1615 os franceses ficam estabelecidos no Maranhão, na verdade no litoral, num Forte de pau-a-pique denominado forte São Luís [Homenagem ao rei da França Luís XIII]. É digno de nota que esse “Forte” era muito frágil, não era nada complexo, nem tinha uma cara de Fortaleza. A Coroa portuguesa procurou tomar posse daquilo que ela achava que era dona.


A presença francesa era vista como uma perigosa ameaça aos interesses portugueses no Maranhão. Sob pressão, a Coroa toma uma decisão enérgica: a região deveria ser conquistada de uma vez por todas, e o quanto antes. Os franceses já estavam por ali havia algum tempo: dois exploradores, Charles des Vaux e Jacques Riffault, haviam se instalado entre os índios, estabelecendo importantes relações com certos grupos nativos. Mas somente alguns anos depois, quando retornou à França, Charles des Vaux encontraria os parceiros certos para empreender uma missão de maior amplitude na Amazônia. Com a autorização da rainha regente da França, o conquistador capitaneou uma companhia de colonização que chegaria ao Maranhão em 1612. (CHAMBOULEYRON, 2007)


Em 1615 os franceses foram expulsos pelos portugueses na explêndida Batalha de Guaxenduba. É nesse contexto que “aconteceu” a Jornada Milagrosa” onde a Santa deu a vitória aos portugueses. Kkk.... Coitado dos índios.... enfim...

Então vimos que a presença francesa foi de curto período no Maranhão. É claro que já fazia um tempo que os franceses pertubavam os portugueses no Brasil. Primeiro, com a fundação da França Antártica na Ilha de Guanabara em 1555. Depois da expulsão do Maranhão, eles não “largaram o osso”, continuaram brigando por alguma possessão na região e se estabeleceram em Caiena (atual Guiana Francesa). Assim, vimos que não houve uma fundação francesa da cidade. Poderíamos dizer que existiu um projeto de colonização, mas que não foi bem sucedido.


Dentre todos os projetos não luso-castelhanos para o Maranhão, a ocupação francesa foi a que mais obteve a atenção da burocracia hispano-lusa na primeira década do século XVII. Diferentemente de ingleses e holandeses, que nos primeiros anos montam pequenos complexos comerciais e feitorias às margens dos rios, os franceses organizaram uma ação que, mesmo com limitadas proporções, implicava uma ocupação militar-civil, entre 1612 e 1615. Por conta disso, a França Equinocial também foi o projeto que mais se cristalizou na memória historiográfica local, muitas vezes exagerando certos aspectos dessa ocupação. Entretanto, muitos outros trabalhos, mais recentes, tentam compreender esse projeto com base também em suas falhas, mitos e contradições internas, utilizando já a documentação francesa disponível a respeito. (Cardoso, p. 324, 2011)


·         Por que se dá tanta importância a presença francesa no Maranhão?

Isso se deve devido a importância que historiadores maranhenses trataram a presença francesa no Maranhão.Do século XVI ao XIX, os franceses não passavam de invasores na visão dos historiadores maranhenses dessa época. A partir do final do século XIX começam a construir o discurso da fundação francesa de São Luís. Basicamente a ideia era: O que diferenciava São Luis das outras capitais?

- Nada... e agora...? há... já sei... Nós fomos os únicos fundados pelos franceses....! Eureka!

Mais ou menos isso. A elite intelectual ludovicense é responsável pela criação desse discurso de singularidade da capital maranhense. Mas, esse discurso tem um problema, os franceses, estavam interessados em qualquer lugar que se fosse explorar, e como vimos, já fazia séculos que empreendedores franceses tentavam se estabelecer na Costa brasileira, e acabou ficando com a atual Guiana francesa.

...a partir das invasões e tentativas de instalação de feitorias e colônias por corsários e piratas franceses nas costas coloniais brasileiras (na Bahia, São Tomé, Rio de Janeiro, Paraíba, Sergipe, dentre outras capitanias), a experiência do Maranhão não constituiu nenhuma novidade ou singularidade. Pelo contrário, provocou forte reação portuguesa com maior patrulhamento da costa e o combate e expulsão dos invasores. Ao mesmo tempo, mostra como a colonização foi efetivada pelas expedições portuguesas, algumas delas lideradas por Jerônimo de Albuquerque, com medidas de fundação e constituição jurídico-militar, sendo que os franceses, a rigor, não fundaram nada, pois nem nos documentos que elaboraram durante a permanência no Maranhão finalizavam com vila ou cidade de São Luís, mas apenas, Ilha de Upaon-açu, Maranhão ou Forte de São Luís.  (SOUSA, p. 117, 2006)

Lourdes Lacroix, em “Aventura dos franceses no Maranhão” 19 , faz sua segunda intervenção, onde considera indiscutível a tentativa francesa de fundar uma colônia no norte do Brasil. Entende, porém, a partir da análise dos documentos franceses produzidos á época, que, de fato, os franceses não fundaram efetivamente nada, fora o Foirt Saint-Louis. Argumenta também que os franceses não dispunham da certeza do apoio real francês frente à oposição portuguesa e da Igreja Católica, o que os levou, segundo ela, a adiar qualquer formação jurídico-administrativa. (Idem, p.120, 2006)

Assim, a atual historiografia maranhense, de forma hegemônica descontruiu esse discurso da fundação francesa de São Luís. Existe ainda uma elite intelectual que acredita no discurso da singularidade, inclusive o governo do Estado. Para entender melhor essa discussão, é fundamental a leitura do livro da professora Maria de Lourdes Lauande. A Fundação Francesa de São Luís e seus mitos, lançado em 2002.






Referências


BOTELHO, Joan. Conhecendo e Debatendo a História do Maranhão. Fort Gráfica, 2007.

CARDOSO, Alírio. A conquista do Maranhão e as disputas atlânticas na geopolítica da União Ibérica (1596-1626). 2011

CHAMBOULEYRON, Rafael. A Amazônia sob fogo cruzado. Revista de História BN, 2007.

SOUSA, Jhonatan Uelson Pereira. “OS ESTILHAÇOS”: debate intelectual sobre a fundação francesa de São Luís do Maranhão. Revista Outros Tempos, 2006.



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