Modesto Brocos. A redenção de Cam (1895). Óleo sobre tela, 199cm x 166cm.Rio de Janeiro : Museu
Nacional de Belas Artes.
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“O melhor de um sexo deveria ser unido ao melhor do outro tão frequentemente quanto possível, e o pior de um ao pior do outro o menos possível.” - Platão
O que este quadro representa?
Antes de responder a essa pergunta, vamos entender que tipo de pensamento era comum entre os intelectuais dessa época. Com o advento da ciência no século XIX, muitos se preocuparam em estudar o ser humano como objeto científico. Entre a segunda metade do século XIX e início do século XX, surgiram as chamadas "teses eugenistas", que tinham como fundamento a crença em um padrão genético a ser alcançado pelos outros povos.
O padrão a ser alcançado era o do homem branco europeu, ideal de civilização. Acreditava-se que as "raças" amarela (asiáticos), vermelha (indígenas) e negra eram inferiores. A partir dessa premissa, o processo de neocolonização seria justificável. Os europeus, como modelo de civilização, poderiam interferir nos continentes africano e asiático, onde as pessoas eram consideradas inferiores.
No Brasil, um dos que defendiam esta tese foi o antropólogo e médico carioca João Baptista de Lacerda (1846-1915).
Quem influenciou João B. de Lacerda?
- O determinismo de Henry Thomas Buckle.
- O darwinismo social de Spencer e as teorias de Gobineau.
Congresso Universal das Raças, Paris, 1911
Vários intelectuais do mundo se reuniram na França para debater sobre temas relacionados às raças, progresso das civilizações, eugenia, etc. João B. Lacerda participou do evento e trouxe consigo uma cópia do quadro “A Redenção de Cam”, do pintor espanhol Modesto Brocos.
Exemplos da Teoria no Brasil
- Essa casou bem! (Casou mais branco)
- O ensino de História, por exemplo, do Egito. Durante o século XIX e início do século XX, alguns estudiosos ocidentais minimizaram ou negaram as influências africanas no Egito antigo para apoiar narrativas eurocêntricas.
- A foto de Machado de Assis como sendo uma pessoa branca, sendo que ele era negro.
Vários intelectuais do mundo se reuniram na França para debater sobre temas relacionados às raças, progresso das civilizações, eugenia, etc. João B. Lacerda participou do evento e trouxe consigo uma cópia do quadro “A Redenção de Cam”, do pintor espanhol Modesto Brocos.
Agora, voltemos à pintura.
Ela retrata três gerações de uma família. Brocos queria mostrar como a tese do "embranquecimento racial" era possível e plausível. A primeira geração, a avó negra; ao centro, a mãe, "mulata", que carrega um bebê branco no colo; à direita, possivelmente o pai da criança, também branco. Basicamente, a avó levanta as mãos para os céus agradecendo que seu neto conseguiu embranquecer. Nesse contexto social, ser branco era o padrão a ser alcançado. No caso do darwinismo social, usando-se seleção sexual, os resultados seriam mais satisfatórios.
A Teoria do Embranquecimento Racial afetou os pensadores em nosso país, e, por ser um estudo científico consideravelmente recente, início do século XIX, ainda sentimos que muitas pessoas buscam ideais a serem seguidos a qualquer custo. Cenas de intolerância racial são parte do cotidiano do nosso país. O pior é saber que pessoas que possuem certo grau de instrução podem ser responsáveis pela disseminação de ódio contra classes sociais e étnicas.
No século XIX, os intelectuais, homens de sua época, acreditavam que a ciência estava certa nesse sentido. Porém, como sabemos, esses estudos foram invalidados por novas pesquisas teóricas de onde surgiu o conceito de etnia. Os grupos de pessoas não seriam mais separados por questões de genética, mas por suas diferenças sociais e culturais.
Essa reflexão é essencial para que possamos compreender como o passado moldou nosso presente e como devemos lutar para construir um futuro mais justo e igualitário, onde a diversidade seja valorizada e respeitada. Entender a história é um passo fundamental para não repetirmos os erros do passado e para promovermos um mundo onde todos tenham as mesmas oportunidades, independentemente de sua origem.
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