Em 13 de março de 1901 índios guajajaras (tenetehara) atacam uma vila de padres capuchinhos e massacram centenas de pessoas. Foi um massacre sangrento, cerca de duzentas pessoas morreram, os padres foram martirizados, se tornaram heróis e os índios a imagem do mal. Um ato de barbaridade contra a ação civilizadora dos padres. Essa é a visão da história capuchinha do evento.
O "Massacre" pode ser encarado como um conflito de interesses entre frades e nativos da região. Há uma ação ideológica predominante por partes dos frades. É um poder efetivo que corrói os indígenas por dentro, no íntimo. Conforme Pierre Bourdieu "o poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe
estão sujeitos ou mesmo o exercem.” Assim, esse poder de impor soa de forma desnatural para os nativos. “O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo, portanto mundo, poder quase mágico que permite o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário.” (BOURDIEU, Pierre. “Sobre o poder simbólico”. In : O poder simbólico. Lisboa : DIFEL, 1989. p. 14.)
Os nativos não ignoraram o que os rodeava e foram a luta pelo o que estava em jogo: sua cultura. O que houve um massacre maior, um massacre moral, por aqueles que detinham o poder de inculcar. Em meio a essa arbitrariedade, cerca de 35 líderes guajajaras (teneteharas) deflagraram um ataque contra o que ameaçava sua visão de mundo.
Foram três as causas gerais do conflito:
I - Terras
II - Atividades econômicas
III - Método catequético
Os índios se sentiam descontentes com a ação dos padres capuchinhos e a atividade missionária se expandia na região, os padres detinham grande parte das relações comerciais com os índios, excluindo-se fazendeiros e comerciantes da região.
Os índios tinham uma noção diferente de disciplina do trabalho, casamento, poligamia, criação de filhos, relação com bebidas alcoólicas, etc. Não houve negociação para o método catequético, havendo descontentamento por parte dos nativos.
As terras pertencentes aos posseiros indígenas aos poucos foram tomadas pela ação missionária que se expandia na região, marginalizando os donos da terra.
Fazendeiros e comerciantes incitaram os índios a se rebelarem contra os padres capuchinhos. Havia uma relação de interesses. Os índios queriam livre acesso a bebidas, e outros gêneros.
Não podemos questionar só a atitude do povo guajajara, mas a violação cultural promovida pelos frades capuchinhos. Esse conflito revela que na história não existe bons ou maus, mas que há uma série de interesses de partes conflitantes e que a visão de um é diferente do outro.
1 Comentários
Realmente nimguem tem o direito de modificara cultura do próximo.
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