Resumo: A Cristianização do Imaginário Indígena


O que põe o mundo em movimento é a interação das diferenças, suas atrações e repulsões; a vida é pluralidade, morte é uniformidade.
(Octavio Paz)



GRUZINSKI, Serge. A Cristianização do Imaginário. In: A Colonização do imaginário. Sociedades indígenas e ocidentalização no México espanhol séculos XVI-XVIII. Companhia das Letras, SP, 2003.



Resumo do Capítulo 5. A Cristianização do Imaginário


Conceitos de poder, sociedade e do sobrenatural são específicas a cada sociedade. A sociedade ocidental e as sociedades indígenas percebiam a realidade dessas coisas de forma muito particular. O texto a seguir revela os problemas e as dificuldades de interação de evangelizadores e índios, também revela que os índios criavam suas próprias representações do surreal e tinham vivos em mente suas matrizes religiosas.

Cada qual projetou seus esquemas interpretativos um sobre o outro. Para os índios, os colonizadores possuíam um lugar no seu imaginário religioso. Para os evangelizadores os deuses indígenas eram manifestações do Diabo (seu imaginário religioso).

Por um lado a Igreja procurava propalar seu imaginário cristão buscando inserir nos seus esquemas os "desvios" indígenas (embriaguez, alucinações, delírios), o que gerou muita confusão e mal entendidos. O problema era encontrar palavras equivalentes no idioma nativo. Por exemplo, primeiro na questão da comunicação. Mictlán (uma das moradas para os mortos e era gelado) // Inferno; ilhuicatl (empíreo indígena, possuia 13 níveis) // Céu; In tloque in nahuaque (O mestre do próximo e do remoto, Dual Tezcatlipoca e Quetzacoatl) // Deus.

Depois, a utilização de suportes visuais também teve alguns efeitos não esperados pelos clérigos. Afrescos, pinturas, esculturas, quadros, etc foram assimilados pelos indígenas de forma muito particular. Os índios que difundiam as figuras as faziam com uma interpretação própria, uma mistura de divindades, ou seja, com sua concepção de divino presente.

Por fim, a subjetivação, ou seja, inserir a experiência "mística" indígena na lógica do acesso cristão ao sobrenatural. O contato com o sobrenatural era o ponto de inflexão. O Milagre, a experiencia do Divino, a principio rejeitada como instrumento de conversão por um grupo de franciscanos (Motolínia, Sahagún e o arcebispo de Montúfar), mais tarde em meados do século XVI há registros desses eventos que  começam a fazer parte do arsenal católico para conquistar os neófitos.

Um grupo chamado de os veneráveis relataram várias curas milagrosas na região. De forma similar, índios curanderos também relataram o poder de curar. Os primeiros eram considerados "santos", os índios "feiticeiros". Qual a diferença? -.

A difusão do Culto Mariano. Num primeiro momento os clérigos se preocuparam em combater as práticas pagãs. Num segundo momento os "desvios" (o modo como os nativos viam as coisas do seu ponto de vista) entre os autóctones. A similaridade da Deusa Mãe Toci com a Virgem Maria nos lembra que a penetração e territorialização do invisível cristão produziu uma religião pluri étnica onde os clérigos procuravam criar situações onde os índios participassem subjetivamente da experiência com o Divino, ocorria então uma interiorização individual (visões, milagres, etc). 


Diferente do clero regular, o clero secular defendia a devoção dos índios à Virgem Maria explorando os milagres para estimular a devoção dos indígenas. Para isso compilaram os relatos que circulavam na época sobre aparições e milagres da Virgem de Guadalupe (culto mariano no México) e utilizaram como instrumento teológico. 


Os padres estabeleciam uma memória e apresentavam os fundamentos de uma identidade para uma nova sociedade. A devoção da Virgem de Guadalupe expandiu-se mesmo contra a vontade de parte da igreja mexicana.


Com o tempo a população urbana foi crescendo, índios, espanhóis e mestiços compartilhavam de uma religiosidade coletiva. O culto da Virgem de Guadalupe integravam os grupos étnicos diferentes.


A visão cristã ganhava espaço, numa estrutura dualista (Bem e Mal), insere as experiências indígenas nessa ordem cosmológica espiritual, criando significações para emoções sentidas, do medo a angústia, do pecado a confissão, gerando assim a interiorização dessas ações no meio autóctone. 


A pedagogia jesuítica passa por uma reformulação, cria conexões na esfera do imaginário indígena. Isso não quer dizer que há uma imposição do cristianismo. A sociedade mexicana cresce e consigo conectada ao universo espiritual indígena, africano, pois nem todos os espaços estavam ao controle da Igreja. As cidades estavam repletas de espanhóis que levavam uma vida dupla, baseada em aparências. Os índios não ficavam atrás, usavam isso como uma forma de atuar no seu meio social também.


No que diz respeito a magia e feitiçaria, para espanhóis, mestiços, negros, estas forneciam um acesso fantasmático aos valores e bens que a existência lhes negava. Os clientes estavam dispostos a tudo para atingir seus objetivos. O serviço da magia garantia o sustento de vários homens e mulheres. "Nela, as separações nítidas e fixas que a Igreja insistia em impor aos índios eram pulverizadas, numa miríade de crenças e práticas".


Empréstimos, justaposições e confusão. A colonização mexicana produziu uma sociedade diferente, com um dinamismo cultural do sobrenatural que permeava a vida desse povo, dos alto clérigos aos camponeses. Não se pode falar de matriz cristã, indígena e africana. O que há é uma teia de jogo de interesses, de apropriações em que colonizadores e nativos se inseriram. Cada qual utilizando suas táticas e suas percepções do mundo.


*Fim*








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